TEOLOGIAS PÓS-MODERNAS OS DESAFIOS E PERSPECTIVAS PARA TEOLOGIA HOJE.


A reflexão sobre a pós-modernidade na vida da igreja de hoje conduz-nos ao intento de detectar firmas concretas dessa presença nas comunidades cristã. Especificamente, como objeto de estudo hipotético.
            Se tanto a perspectiva de Deus como de Jesus Cristo e da igreja sofrem modificações tão radicais que não harmonizam como testemunho bíblico, então é fácil deduzir conseqüências graves para a missão da igreja no mundo. Segundo o paradigma da prosperidade, a igreja, que é chamada a proclamar o reino de Deus e sua justiça, precisa alterar o conteúdo da sua mensagem para dizer que os bens-aventurados e quem pertencem o reino de Deus não são os pobres, mas os ricos. Se o reino de Deus é justiça, fundamentalmente para os que não a têm, pobres desvalidos, explorados, marginalizados, agora ele é validação das práticas individuais e carentes de solidariedade.
            A mensagem de Jesus, de que as pessoas não deviam segui-lo “pelo pão e peixe”, agora e mudada totalmente para dizer, efetivamente, deve-se segui a Jesus pelas riquezas que ele nos promete no evangelho. A vida da igreja como comunidade do reino de Deus e sua justiça, ao seguir essas propostas, se transforma em protetora do status quo, perdendo toda função profética e crítica da sociedade pós-moderna. Ela acaba por adotar a cor e incorporar a roupagem individualista, pragmática e economicista que privilegia as leis do deus-mercado, que imola diariamente vítimas propiciatórias. Em suma, teologia da prosperidade, apesar da sua popularidade e atrativo, tergiversa o próprio sentido do evangelho, já que apresenta um discipulado sem cruz, sem risco e sem renuncia. É, na célebre expressão de Dietrch  Bonhoeffer: uma nova forma de “graça barata”
            Por outro lado, estes modelos simplistas de exposição teológica subjaz certo espírito de autoritarismo e autolegitimidade. O cenário religioso se apresenta como uma realidade fértil para esses modelos, já que tende a confundir a autoridade do Espírito Santo com a autoridade do líder de plantão: em conseqüência, com relativa facilidade se confunde convicção com intolerância e autoritarismo. Parece-me que é preciso, a partir da comunidade de fé, elaborar uma decodificação dos discursos teológicos, tarefa a que ademais, somos convidados pela própria Bíblia.
            A teologia que trata não tanto de falar de Deus diretamente quanto de expressar nossas idéias e experiências de Deus, corre o perigo esquecer-se da adversidade de Karl Barth de que “são homens os que falam de Deus”. A teologia (e todo falar sobre Deus) vive sob a tentação desse esquecimento. A coisificação da representação produz, então ídolos que, como diria Heidegger, são uma blasfêmia contra Deus.
            A falta de consciência social na teologia, se não nos torna réus de enganos, torna-nos réus de ignorância vencível e culpável. Chegou o momento de a reflexão teológica assumir conscientemente as mediações das ciências sociais. Aumentará a complexidade do trabalho e a expressão teológica, mas se evitará as pressuposições idealistas e a acusação de julgar, mais ou menos veladamente, os papeis ideológicos.
            Em conclusão, apesar de sua ênfase nas experiências e no pragmático, nem a teologia da prosperidade nem a teologia “simplista” constituem modelos adequado para responder ao mundo pós-moderno. A primeira absorve – conscientemente ou não – o individualismo e o “salve-se quem puder” próprios do tipo de sociedade que a globalização e o capitalismo selvagem estão  impondo. Ela propõe uma solução fácil e efetiva que não leva em conta a profundidade do programa do mal e do sofrimento. Em seus conteúdos teóricos, produz mudanças teológicas indefensáveis, que não resistem a nenhum tipo de análise.
             O modelo simplista, por sua vez, não leva em consideração a complexidade incontornável da tarefa teológica, pretendendo simplificar o que por sua própria natureza, não o é. Manifesta, também, uma tendência reducionista na qual todo o propósito de Deus se reduz pura e exclusivamente ao que sucede no interior da igreja, como se as outras realidades – como a família, o trabalho e o estado – não pertencessem às ordens criadas por Deus. Um aspecto que unifica os dois modelos é a manifesta tendência autoritária, manipuladora e autoletigimadora por parte de seus líderes, propensos a confundir convicção com intolerância, e autoridade com autoritarismo.
             A título de proposta, insisto no reconhecimento do caráter humano da teologia, o qual implica uma abertura à sua vulnerabilidade como discurso, e o reconhecimento da autonomia de outros saberes que também estudam o ser humano e a sociedade. Somente uma teologia humilde, consubstanciada com o evangelho do reino, centrada na experiência, mas sem renunciar a seu rigor científico e bíblico, pode constituir-se em uma resposta adequada para o mundo pós-moderno.