PASTOR PREOCUPADO, IGREJA NEURÓTICA


O ministério pastoral e a igreja terapêutica. Queremos agora conversar sobre o papel do pastor na construção de uma igreja cuja vocação terapêutica encontre expressão concreta no seu dia a dia.
Já é um fato conhecido que, como conseqüência das funções desempenhadas, o pastor constitui uma figura com destaque e influência, O pastor influencia e molda opiniões, transmitindo uma visão de mundo aos seus ouvintes.
De modo muito natural, o pastor participa diretamente da vida das pessoas, intervindo, aconselhando, emitindo opiniões, etc.
Conforme Almir Linhares de Faria , no seu artigo "Implicações psicológicas da tarefa pastoral", a figura do pastor concentra um certo poder; assim, "a sua pessoa, seu modo de vida, seus sermões e suas diversas atividades pastorais fornecem padrões de referência para o comportamento e atitude de muitas pessoas." (In: Saúde pastoral e comunitária, 1985, 17).
Vemos então que o pastor está numa ampla esfera de influência na vida da comunidade. Esta, por sua vez, refletirá o estilo de vida e ministério do seu pastor.
Sendo assim, cabe ao pastor a responsabilidade de trabalhar a vida da igreja a fim de levá-la a desenvolver relacionamentos saudáveis, curadores, e gerar ambiente de solidariedade na igreja local.
Segundo Clinebell, "a poimênica e o aconselhamento pastoral são eficazes na medida em que ajudam as pessoas a aumentar sua capacidade de relacionar-se de maneiras que fomentem a integralidade nelas mesmas e nas outras pessoas." (op.cit.,30).
Na verdade, para o autor, o próprio objetivo da poimênica é a integralidade do ser humano. Isso sifnifica que um ministério pastoral que não desemboque em cura, elacionamentos mais profundos e verdadeiros, ambiente de aceitação, etc, está absolutamente desfocado quanto à sua missão.
Um pouco antes, Clinebell declarara: "Poimênica é o ministério amplo e inclusivo de cura e crescimento mútuos dentro de uma congregação e de sua comunidade, durante todo o ciclo da vida." (op.cit., 25).
Nesse sentido, alguns estudiosos têm proposto algumas funções no ministério pastoral, porque geram integralidade. Senão vejamos:
1) O pastor como aquele que cura/cuida - trata-se do processo de sarar as feridas, gerando saúde física, emocional e espiritual, levando o indivíduo ao crescimento e restituindo-o à sua integralidade.
2) O pastor como aquele que sustenta - é o ato de ajudar alguém a suportar uma situação aparentemente impossível de ser transformada. Ex: uma doença incurável. Trata-se aqui do consolo e encorajamento para experimentar graça em meio ao caos.
3) O pastor como aquele que orienta - é o processo de dar conselho, dirigir e funcionar como uma autoridade. Ajudar as pessoas a aprenderem por si mesmas, ajudando-as também a fazer escolhas convictas e confiantes em situações que terão desdobramentos importantes no futuro.
4) O pastor como aquele que reconcilia - procura levar o ser humano a reconciliar-se com Deus, com o outro e consigo mesmo, seja através do perdão, da disciplina ou de uma consciência viva de pertencer ao povo de Deus.
5) O pastor como aquele que nutre - seu objetivo, segundo Clinebell, "é capacitar as pessoas a desenvolver as potencialidades que lhes foram dadas por Deus." (op.cit., 40). Ao mesmo tempo significa nutrir com amor as pessoas, a cada dia, na totalidade de suas vidas.
À medida que entendemos que a igreja é uma comunidade terapêutica, uma comunidade da poimênica, que "presta assistência, promove cura e possibilita crescimento" (p.cit.,33), então é certo dizer que também cabe ao pastor a tarefa de treinar a igreja nesta vocação, a fim de que seus membros desenvolvam na prática a verdade do 'sacerdócio universal de todos os santos', sendo ministros uns dos outros. "O papel do pastor consiste em treinar, inspirar e supervisionar as pessoas leigas no ministério de poimênicas destas." (op.cit.,33).
Podemos perceber então a importância do trabalho pastoral na transformação de uma igreja local em comunidade terapêutica . Pastores saudáveis e equilibrados, ou pelo menos conscientes de suas limitações e em busca de sua integralidade, saberão orientar os membros rumo ao crescimento. Por outro lado, pastores sem esta consciência, desfocados de sua integralidade, dificultarão e prejudicarão o desenvolvimento dos membros de sua comunidade.
Poderíamos dizer então que, neste caso, pastores nervosos gerarão igrejas neuróticas.
Quão grande é a responsabilidade do pastor quanto ao bem estar e crescimento da igreja rumo ao cumprimento de sua missão integral!