A FILOSOFIA EM BUSCA DE UMA DEFINIÇÃO



1.      Em Busca de uma definição da filosofia.

1.1   Quando começamos a estudar a filosofia, somos logo levado a buscar o que ela é. Nossa primeira surpresa surge ao descobrimos que não há apenas uma definição, ma varias.

1.2   Visão de mundo de um povo, de uma civilização ou de uma cultura. A filosofia corresponde, de modo vago e geral, ao conjunto de idéias, valores e praticas pelos quais uma sociedade apreende e compreende o mundo e a si mesma, definindo para si o tempo e o espaço, o sagrado e o profano, o bom e o mau, o justo e o injusto, o belo e o feio, o verdadeiro e o falso, o possível e o impossível, o contingente e o necessário.      

1.3   Sabedoria de vida.  Aqui, a Filosofia é identificada com a definição e a ação de algumas pessoas que pensam sobre a vida moral, dedicando-se à contemplação do mundo pra aprender com ele a controlar e dirigir suas vidas de modo ético e sábio.

1.4  Esforço racional para conceber o Universo como uma totalidade ordenada e dotada de sentido. Começa-se distinguindo entre Filosofia e Religião e até mesmo opondo uma à outra, ambas possuem o mesmo objeto (compreender o Universo). A consciência filosófica procurar explicar e compreender o que parece ser irracional e inquestionável.

1.5    Fundamentação teórica e critica e das praticas. A Filosofia, cada vez mais, ocupa-se com as condições e os princípios do conhecimento que pretende ser racional e verdadeiro: como a origem à forma e o conteúdo dos valores éticos, políticos artísticos e culturais; com a compreensão das causas e das formas da ilusão e do preconceito no plano individual e coletivo; como as transformações históricas dos conceitos das idéias e dos valores.

1.5.1        Filosofia volta-se também para o estudo da consciência em suas varias modalidades; percepção, imaginação, memória, linguagem. Inteligência, reflexão, comportamento, vontade, desejo e paixões, procurando descrever as formas do ser humano consigo mesmo e com os outros.
1.5.2        A filosofia visa ao estudo e a interpretação de idéias ou significação gerais como: realidade, mundo, natureza, cultura, historia, subjetividade, diferença, repetição, semelhança, conflito, contradição, mudança.
1.5.3        Esta ultima descrição da atividade filosófica capta a Filosofia como analise (das condições da ciência, da religião, da arte, da moral), como reflexão (isto é, volta da consciência para si mesma para conhecer-se enquanto capacidade para o conhecimento, o sentido e a ação). E como critica (das ilusões e dos preconceitos individuais e coletivos, das teorias praticas cientificas, políticas e filosóficas).
1.5.4        A Filosofia não é ciência: é uma reflexão critica sobre os procedimentos e conceitos científicos. Não é religião é uma reflexão critica sobre as origens e formas das crenças religiosas. Não é arte é uma interpretação critica dos conteúdos, das formas, das significações das obras de arte e do trabalho artístico. Não é sociologia nem psicologia, mas a interpretação e avaliação criticados conceitos e métodos da sociologia e da psicologia. Não é política, mas interpretação, compreensão e reflexão sobre a origem, a natureza e as formas do poder. Não é historia, mas interpretação do sentido dos acontecimentos enquanto inseridos do tempo e compreensão do que seja o próprio tempo.

  1. Inútil?  Útil?

2.1  O primeiro ensinamento filosófico é perguntar: O que é útil? Para que e para quem algo é útil? O que é inútil? Por que e para quem algo é inútil?

2.2  O senso comum de nossa sociedade considera útil o que dá prestigio, poder, fama e riqueza. Julga pelos resultados visíveis das coisas e das ações, identificando utilidade e a famosa expressão “levar vantagem em tudo”.

2.3    Platão define a Filosofia como um verdadeiro que deve ser usado em beneficio dos seres  humanos.

2.4   Descartes dizia que a Filosofia é o estudo da sabedoria, conhecimento perfeito de todas as coisas que os humanos podem alcança para o uso da vida, a conservação da saúde e a invenção das técnicas e das artes.    

2.5   Merleau-Ponty escreveu que a Filosofia é um despertar para ver mudar nosso mundo.

2.6   Espinosa afirmou que a Filosofia é um caminho árbuo e difícil, mas que pode ser percorrido por todos, se desejarem a liberdade e a felicidade.

  1. A palavra filosofia.
3.1   E composta por duas outra: philo e sophia. Philo deriva-se, de philia, que significa amizade, amor fraterno, respeito entre os iguais. Sophia quer dizer, sabedoria e dela vêm à palavra sophos, sábio.

3.2   Filosofia significa, portanto, amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber. Filosofia: o que ama a sabedoria tem amizade pelo saber, deseja saber.

3.3   Pitágoras teria afirmado que a sabedoria plena e completa pertence  aos deuses, mas que os homens podem desejá-la ou amá-la, tornando-se filósofos, dizia Pitágoras que três tipos de pessoas compareciam aos jogos olímpicos (a festa mais importante da Grécia):

3.4   As que iam para comerciar durante os jogos, ali estando apenas para servir aos seus próprios interesses e sem preocupação com as disputas e os torneios;

3.5   As iam para competir, isto é, os atletas e artistas (durante os jogos havia competições artísticas: dança, poesias, musica, teatro);

3.6    As que iam para contemplar os jogos e torneios para avaliar o desempenho e julgar o valor dos que ali se apresentavam.

  1. A Filosofia é Grega.

4.1   A filosofia, entendida como aspiração ao conhecimento racional, lógico e sistemático da realidade natural e humana, da origem e causa do mundo e de suas transformações, da origem e causas das ações humanas e do próprio pensamento, é um fato tipicamente grego.

4.2   Quando se diz que a Filosofia é um fato grego, o que se quer dizer é que ela possui certas características, apresenta certas formas de pensar e de exprimir os pensamentos, estabelece certas concepções sobre o que sejam a realidade, o pensamento, a ação, as técnicas, que são completamente diferentes das características desenvolvidas por outros povos e outras culturas.

4.3   Os chineses desenvolveram um pensamento muito profundo sobre a existência de coisas, seres e ações contrários ou opostos, que formam a realidade. Deram às oposições o nome de dois princípios: Yin e Yang Yin é o princípio feminino passivo na Natureza, representado pela escuridão, o frio e a umidade; Yang é o principio masculino ativo da Natureza, representado pela luz, o calor e o seco.

4.4    Filosofia é um modo de pensar e exprimir os pensamentos que surgiu especialmente com os gregos e que, por razão históricas e políticas, tornou-se depois, o modo de pensar e de se exprimir predominante da chamada cultura européia ocidental da qual, em decorrência da organização colonização portuguesa do Brasil, nós também participamos.

  1. O legado da Filosofia grega para o Ocidente europeu.

5.1    A idéia de que a Natureza opera obedecendo a leis e princípios necessários e universais, isto é, os mesmo em toda a parte e em todos os tempos.Graças aos gregos, no século XVII da nossa era, o filósofo inglês, Isaac Newton, estabeleceu a lei da gravitação universal de todos os corpos da Natureza.

5.2   As leis geométricas do triângulo ou do círculo, conforme demonstraram os gregos, são universais e necessárias, isto é, seja em Tóquio em 1993, em Copenhague em 1970, em Lisboa em 1810, em São Paulo em 1972, em Moçambique em 1661, ou em Nova York em 1975, as leis do triângulo ou círculo são necessariamente as mesmas.

5.3   A idéia de que as práticas humanas, isto é , a ação moral, a política, as técnicas e as artes dependem da vontade livre, da deliberação e da discussão, da nossa escolha passional (ou emocional) ou racional, de nossa preferências, segundo certos valores e padrões, que foram estabelecidos pelos os próprios seres humanos e não por imposições misteriosas e incompreensíveis.

5.4   A idéia de que os acontecimentos, naturais e humanos são necessários, porque obedecem a leis naturais humana, mas também pode ser contingentes ou acidentais, quando dependem das escolhas e deliberações dos homens, em condições determinadas.

5.5    Um dos legados mais importantes da Filosofia grega é, portanto, essa diferença entre o necessário e o contingente, pois ela nos permite evitar o fatalismo – “tudo é necessário, temos que nos conformar e nos resignar”.

5.6    A Filosofia surge, portanto quando alguns gregos, admirados e espantados com a realidade, insatisfeito com as explicações que a tradição lhes dera, começaram a fazer perguntas e buscar respostas para elas, demonstrando que o mundo e os seres humanos, os acontecimentos e as coisas da Natureza, os acontecimentos e as ações humanas podem ser conhecidos pela razão humana, e que a própria razão é capaz de conhecer-se a si mesma.

6. O que perguntavam os primeiros filósofos?

6.1 Por que os seres nascem e morrem? Por que os semelhantes dão origem aos semelhantes, de uma arvore nasce outra arvore, de um cão nasce outro cão, de uma mulher nasce uma criança?

6.2       Por que os diferentes também parecem, fazer surgir os diferentes: o dia parece fazer, nascer a noite, o inverno parece fazer surgir a primavera, um objeto escuro clareia com o passar do tempo, um objeto claro escurece com o passar do tempo? Por que tudo muda?

6.3       Por que a doença invade os corpos, rouba-lhes a cor, a força? Por que o alimento que ante me agradava, agora, que estou doente, me causa repugnância?

6.4       De onde vêm os seres? Para onde vão, quando desaparecem? Por que se transformam? Por que se diferenciam uns dos outros?

6.5       Por que tudo parece repetir – se? Depois do dia, a noite, depois da noite, o dia. Depois do inverno, o verão, depois desta, o outono e depois deste, novamente o inverno.

6.6       Sem duvida, a religião, as tradições e os mitos explicavam todas essas coisa, mas suas explicações já não satisfaziam aos que interrogavam sobre as causa da mudança, da permanência, da repetição, da desaparição e do ressurgimento de todos os seres.

7. O nascimento da Filosofia

7.1 Os historiadores da Filosofia dizem que ela possui data e local de nascimento: final do século VII e inicio do século VI a.C, nas colônias gregas da Ásia Menor (particularmente as que formavam uma região denominada Jônia), na cidade de Mileto.

7.2 A palavra cosmologia é composta de duas outras: cosmo significa mundo ordenado e organizado, logia, que vem da palavra logos, que significa pensamento racional, discurso racional, conhecimento.

7.3 Durante muito tempo, considerou-se que a filosofia nascera por transformação que os gregos operaram na sabedoria oriental (egípcias, persas, caldeia e babilônicas).

7.4 Os gregos fizeram nascer duas ciências: a aritmética e a geografia; da astrologia, fizeram surgir também duas ciências: a astronomia e a meteorologia; das genealogias, fizeram surgir mais uma outra ciência: a historia; dos mistérios religiosos de purificação da alma, fizeram surgir às teorias filosóficas sobre a natureza e o destino da alma humana.

7.5 Essa idéia de uma filiação oriental da Filosofia foi muito defendida oito séculos depois de seu nascimento (durante os séculos II e III d.C), no período do Império do Romano. Quem a defendia?

7.6 A filosofia surgiu inesperada e espantosamente na Grécia, sem que nada anterior preparasse;

7.7 A filosofia grega foi uns acontecimentos espontâneos, únicos e sem par, como é próprio de um milagre;

7.8 Os gregos foram um povo excepcional sem nenhum outro semelhante a eles, nem antes e nem depois deles, por isso somente eles poderiam ter sido capazes de criar a Filosofia, como foram às únicas a criar as ciências e as artes umas elevações que nenhum outro povo conseguiu, nem antes e nem depois deles.

8. Nem oriental, nem milagre.

8.1 Desde o final do século XIX da nossa era e durante o nosso século, estudo históricos, arqueológicos, lingüísticos, literários e artísticos corrigiram os exageros das duas teses, isto é redução da Filosofia à sua origem oriental, quando o “milagre grego”.

8.2 De fato, os gregos imprimiram mudança de qualidade tão profundas no que receberam do oriente s das culturas precedentes, que até pareceria criado sua própria cultura a partir de si mesmos.

8.3 Com relação aos mitos: quando compráramos os mitos orientais, cretenses, micênicos, minóicos e os que aparecem nos poetas Homero e Hesíodo, os aspectos apavorantes e monstruosos dos deuses e do inicio do mundo; humanizaram os deuses, divinizaram os homens; deram racionalidade a narrativas sobre as origens das coisas, dos homens. Das instituições humanas (como o trabalho, as leis, a moral);

8.4 Com relação aos acontecimentos: os gregos transformaram em ciências (isto é, num conhecimento racial, abstrato e universal) aquilo que eram elementos de uma sabedoria pratica para o uso direto da vida.
8.5 Com relação à organização social e política: os gregos não inventaram apenas a ciência ou a Filosofia, mas inventaram também a política. Todas as sociedades anteriores a eles conheciam e praticavam a autoridade e o governa.

8.6 Com relação ao pensamento: diante da herança recebida, os gregos inventaram a idéia ocidental da razão como um  pensamento sistemático que segue  regras,  normas e leis de valor universal (isto é, valido em todos os tempos e lugares.

9. Condições históricas para o surgimento da Filosofia

9.1 As viagens marítimas, que permitiram aos gregos descobrir que os locais que os mitos diziam habitados por deuses, titãs e heróis eram, na verdade habitados por outros seres humanos.

9.2 A invenção do calendário, que é uma forma de calcular o tempo segundo as estações do ano, as horas do dia, os fotos importantes que se repetem, revelando, com isso uma capacidade de abstração nova, ou uma percepção do tempo como algo natural e não como um poder divino incompreensível.

9.3 A invenção da moeda, que permitiu uma forma de troca que não se realiza através das coisas concretas ou objetos concretos trocados por semelhança, mas uma troca abstrata uma troca feita por calculo do valor das coisas diferentes.

9.4 o surgimento da vida urbana, com predomínio do comercio e do artesanato, dando desenvolvimento a técnicas de fabricação e de troca, e diminuindo o prestigio das famílias da aristocracia proprietária de terras, por quem e para quem os mitos, foram criados; além disso, o surgimento de uma classe de comerciantes ricos.

9.5 A inversa da escrita alfabética, que como a do calendário e a da moeda, revela o crescimento da capacidade de abstração e de generalização, uma vez que a escrita alfabética ou fonética, diferentemente de outras escritas como, por exemplo, os hieroglíficos dos egípcios ou os ideogramas dos chineses.

9.6 A invenção da política, que introduz três aspectos novos e decisivos para o nascimento da filosofia.

9.6.1 A idéia da lei como expressão da vontade de uma coletividade humana que decide por si mesma o que é melhor para si e como ela definira suas relações internas.
9.6.2 O surgimento de um espaço público, que aparece um novo tipo de palavra ou de discurso, diferente daquela que era pelo proferido pelo mito.
9.6.3 A política estimula um pensamento e um discurso que não procuraram ser formulado por seitas secretas dos iniciados em mistérios sagrados, mas que procuram, ao contrario, ser públicos, ensinados, transmitidos, comunicados e discutidos.

9.7 Principais características da Filosofia nascente

9.7.1 Tendência à racionalidade, isto é, a razão e somente a razão, com seus princípios e regras, é o critério da explicação de alguma coisa;

9.7.2 Tendência a oferecer respostas conclusivas para os problemas, isto é, colocada um problema, sua solução é submetida à analise, a critica, à discussão e à demonstração nunca sendo aceita como uma verdade, se não for provado racionalmente que é verdadeira;

9.7.3 Exigência de que o pensamento aparente suas regras de funcionamento, isto é, o filosofo é aquele que justifica suas idéias provando que segue regras universais do pensamento.

9.7.4 Recusa de explicações preestabelecidas e, portanto, exigência de que, pra cada problema, seja investigada e encontrada a solução própria exigida por ele;

9.7.5 Tendência à generalização, isto é, mostrar que uma explicação tem validade para muitas coisas diferentes porque, sob a variação percebida pelos órgãos de sentidos, o pensamento descobre semelhança e identidades.

10. Campos de investigação da Filosofia

10.1 A historia da Grécia costuma ser dividida pelos os historiadores em quarto grandes fases ou épocas:

10.2 A da Grécia homérica, correspondente aos 400 anos narrados pelo o poeta Homero, em seus dois grandes poemas, Ilíadas e Odisséia;

10.3 Da Grécia arcaica ou dos sete sábios, do século VII ao século V a.C, quando os gregos criam cidades como Atenas, Esparta, Tebas, Megara, Samos, etc.

10.4 Da Grécia clássica, nos séculos V e IV a. C, quando a democracia se desenvolve, vida intelectual e artística entra no apogeu e Atenas domina a Grécia com seu império comercial e militar;

10.5 E, finalmente, a época helenística, do final do século IV a. C, quando a Grécia passa para o poderio do império de Alexandre da Macedônia e, depois para as mãos do Império Romano; terminado a historia de sua existência independente.  

10.6 Os quatro grandes períodos da Filosofia grega, nos quais seu conteúdo muda e se enriquece, são:

10.7 Período pré-socrático ou cosmológico, do final do século VII ao final do século V a.C, quando a filosofia se ocupa fundamentalmente com a origem do mundo e as causa das transformações na Natureza.

10.8 Período socrático ou antropológico, do final do século V e todo século IV a.C, quando a Filosofia investiga as questões humanas, isto é a ética a política (em grego, ântropos quer dizer homem).

10.9 Período sistemático, do final do século VI ao final  do século III a. C, quando a Filosofia busca reunir e sistematizar tudo quando foi pensado sobre a cosmologia e a antropologia.

10.10 Período helenístico ou greco-romano, do final do século III a. C, até o século VI d.C. Neste período, que já alcança Roma e o pensamento dos primeiros Padres da Igreja, a Filosofia se ocupa, sobretudo com as questões da ética, do conhecimento humano e das relações entre o homem e a Natureza e de ambos com Deus.