EVANGELIZAÇÃO



 Afirmamos que há um só Salvador e um só evangelho, embora exista uma ampla variedade de maneiras de se realizar a obra de evangelização. Reconhecemos que todos os homens têm algum conhecimento de Deus através da revelação geral de Deus na natureza. Mas negamos que tal conhecimento possa salvar, pois os homens, por sua injustiça, suprimem a verdade. Também rejeitamos, como depreciativo de Cristo e do evangelho, todo e qualquer tipo de sincretismo ou de diálogo cujo pressuposto seja o de que Cristo fala igualmente através de todas as religiões e ideologias.


[...] ”Jesus Cristo, sendo ele próprio o único Deus-homem, que se deu uma só vez em resgate pelos pecadores, é o único mediador entre Deus e o homem. Não existe nenhum outro nome pelo qual importa que sejamos salvos. Todos os homens estão perecendo por causa do pecado, mas Deus ama todos os homens, desejando que nenhum pereça, mas que todos se arrependam. Entretanto, os que rejeitam Cristo repudiam o gozo da salvação e condenam-se à separação eterna de Deus. Proclamar Jesus como” O Salvador do mundo “não é afirmar que todos os homens, automaticamente, ou ao final de tudo, serão salv[1]os; e muito menos que todas as religiões ofereçam salvação em Cristo ” [...] ( HIEBERT, 2003, p.197).


 Trata-se antes de proclamar o amor de Deus por um mundo de pecadores e convidar todos os homens a se entregarem a ele como Salvador e Senhor no sincero compromisso pessoal de arrependimento e fé. Jesus Cristo foi exaltado sobre todo e qualquer nome. Anelamos pelo dia em que todo joelho se dobrará diante dele e toda língua o confessará como Senhor.
A influência perniciosa e nefasta do liberalismo teológico do século XX, em particular das teologias do evangelho social e da libertação, foi um dos fatores que colaboraram para a polarização entre evangelização e a ação social no meio. Para um argumento interessante contra este reducionismo evangélico (a polarização teológica ente evangelização e ação social).

[...] “O esforço de se combater a teologia do evangelho social e depois a teologia da libertação (por causa da ênfase social à parte do evangelho bíblico e de uma filosofia marxista, principalmente desta última), provocou um mal-estar na igreja brasileira. Resultado: No afã de se preservar o espiritual, a Igreja acabou se equivocando e não enxergou a mensagem social autêntica que o mesmo evangelho oferecia [2] ”. [...] (STEUERNAGEL, 1994, p.321).


Se de um lado as teologias liberais mencionadas cometeram o pecado do social sem espiritualidade, a igreja evangélica brasileira, por outro lado, pecou na espiritualidade sem encarnação. Contudo, há de se admitir que, por sua vez, tanto o evangelho social quanto a teologia da libertação provocaram uma reação positiva na Igreja. A Igreja foi levada a refletir seus valores, dando uma reviravolta considerável nessa história toda. Hoje em dia, boa parte das igrejas brasileiras está envolvida em trabalhos sociais, e sem qualquer preocupação de ser rotulada e perseguida por isso, como ocorria em tempos atrás. Um dos maiores males cometidos na igreja evangélica brasileira de hoje é limitar o conceito de salvação, entender que Cristo veio salvar apenas a alma do homem ou da mulher.


[...] ”O ser humano – homem ou mulher – é um todo e deveria sempre ser visto assim, como o é pela Bíblia. Partindo da perspectiva bíblica, o ser humano poderia ser definido como sendo uma comunidade integrada de corpo e alma[3] ” [...] (STOTT, 1989, p. 38).


Entretanto, a ausência da compreensão do indivíduo como ser integral, pela própria Igreja, tem levado a mesma a desvalorizar não somente o ser humano na sociedade, como também o próprio evangelho para o qual ela foi chamada a proclamar no mundo, só existe fidelidade na evangelização quando existe fidelidade na missão integral da igreja.

[...] “Observa que parte do descuido do "homem total" tem sua origem na ênfase platônica não-cristã sobre a dualidade do ser humano. "Esta ênfase foi dirigida pelos cristãos na Idade Média e tem sido transmitida para o presente[4] " [...] GEISLER, 1985, p. 154).


Em síntese o platonismo argumenta que o ser humano é essencialmente um ser espiritual e que apenas tem conexão funcional com um corpo que, na melhor das hipóteses, é um impedimento e, na pior, um grande mal. A correção deste erro está no ensino bíblico acerca da unidade essencial do ser humano.
Além da influência platônica, os missionários europeus e norte-americanos que aqui estiveram parece que não conseguiram passar adiante a idéia da missão integral.
O que é facilmente percebido nas mensagens bíblicas e hinos que os missionários nos legaram. Porém, isso não quer dizer que não houve qualquer tipo de envolvimento social, pelo contrário, a história da igreja brasileira registra dignos exemplos de missionários como Robert e Sarah Kalley, Ashbell Green Simonton e outros, que desempenharam um papel social muito grande em nosso país. Mas então, por que a igreja evangélica brasileira de modo geral não herdou a totalidade da visão desses bons exemplos de missionários, e durante tanto tempo vem caminhando lentamente na questão social?


[...] “Há pouco, isto é, a omissão da Igreja, até hoje sentida, por causa daquela reação ao evangelho social e à teologia da libertação. Outra razão é que a maioria dos missionários estrangeiros que aqui chegaram tendia para a corrente do evangelho individua [5] ” [...]  (Goulart, 1988, p. 39).


Isso explica, embora não justifique, é claro, nosso espiritualismo desencarnado no campo social; o que, de certa forma, contribuiu para a difusão do evangelho social e principalmente da teologia da libertação em nosso país.


[1] HIEBERT, Paul, Evangelho e a diversidade das culturas.2003

[2] STEUERNAGEL, Valdir R.  A missão da igreja Missão Editora, Belo Horizonte 1994.
[3] STOTT, John R.W. O cristão em uma sociedade não cristã. Niterói: Vinde, 1989.

[4] GEISLER, Norman L. Ética cristã: Alternativas e questões contemporâneas. Ed. Vida Nova, 1985
[5] Goulart  Jorge. A ação social da igreja. Teses, São Paulo 1988.