olhar da observação da sala de aula do educador.


Acredita-se na relevância do trabalho com a História de Vida, para que os educadores repensem sua prática pedagógica, de modo a promover a almejada mudança na escola. Certamente não a mudança extrínseca ao ser, articulada à visão disciplinar; mas a subjetiva, intrínseca à constituição do ser, cujas modificações emergem, ao longo do processo vivido. Com isso, pretende-se que o educador situe-se como agente cultural, cabendo à formação docente depurar a consciência sobre a prática pedagógica, para além da mera busca de conhecimento formal.
A escola não é o prolongamento da casa do aluno, nem é o quintal da vovó. Na escola, não tem tia. Escola é um espaço público, de muitas pessoas e não um espaço familiar. A família é um espaço primário de educação, no qual as relações de parentesco se estabelecem. Escola é um espaço de pessoas públicas onde se constrói conhecimento e onde se testemunha o que acontece no mundo.
Vida é fundamental ao desenvolvimento da postura do educador em formação como leitor crítico da educação, em sentido pleno, e do seu papel social. É pela análise e crítica das afirmações, que também constituem o relato, que seus significados podem tornar-se vivos, evidentes, levando aquele que interroga a refletir sobre seu sentido no mundo histórico, colocado em destaque pela interrogação.
O comportamento do aluno é fruto da crise ética da sociedade. “A criança chega à escola sem ter uma ética primária, boa educação, bons modos, sem saber dizer ‘por favor’, ‘obrigado’, ‘com licença’. Os valores estão em falta, foram jogados fora. A escola precisa ser modelo e espaço de ética. Educadores são modelos, então precisam tomar cuidado em como exercitar sua autoridade, seu poder. Essa falta de postura também atinge os educadores.
A observação tem que ter foco, objetivo. Tem que haver um ponto para ser olhado, perseguido, pois é um momento de estudo e reflexão sobre a prática. Essa reflexão precisa ser guiada. Só se aprende com o que se faz, quando há sentido e significado na observação da prática. Para isso, o professor precisa estar atento aos erros e acertos que comete na situação de ensino e aprendizagem. Não basta uma observação intuitiva. Ela deve ter foco.
Foco - O primeiro alvo é o corpo do aluno: como ele se porta, como se manifesta e como recebe o planejamento a ele passado. Essa observação é um momento de reflexão e estudo. É uma avaliação constante do grupo e da própria prática. O educador, ensina Madalena, deve ter consciência que o ser humano está em constante mudança. Não deve restringir sua observação ao que sabe e conhece. Precisa estar disposto a buscar, assumir, sua competência pedagógica para ser modelo e construir sua autoridade. A observação é um objeto de estudo que leva a essa competência e que caminha lado a lado com o registro.
No conteúdo; na aprendizagem do grupo e de seus indivíduos; no planejamento das atividades – adequação e inadequação; na avaliação do ato de ensinar, determinar quais situações foram ou não aproveitáveis. Deve haver autocrítica, nas críticas pessoais, nas conquistas. A observação e o registro são armas na luta pela construção do educador competente.
Observar, olhar o outro e a si próprio, significa estar atento, buscando o significado do desejo, acompanhar o ritmo do outro buscando sintonia com este.



FREIRE, Madalena, et al. Observação, Registro. Instrumentos Metodológicos, 1996.