Perfil da nossa sociedade


A nossa sociedade pós-moderna apresenta muitos desafios para o ser humano neste novo século.
As características de uma sociedade utilitarista e acumuladora de bens têm levado indivíduos e famílias inteiras a fazer novas opções de valores, prioridades e estilo de vida. Não só isso, mas também a uma série de conseqüências que atingem diretamente a vida humana
Gostaríamos de tentar traçar um perfil da sociedade em que vivemos e, consequentemente, daqueles que fazer parte da comunidade cristã, denominada igreja.
Solidão: As pessoas vivem sós no contexto urbano atual. Muitas têm imensa dificuldade em compartilhar suas vidas, temores e angústias. Apesar de necessitarem e até desejarem relacionamentos profundos, não conseguem romper com as barreiras e ir ao encontro do outro.
Permanecem assim como uma ilha, mesmo em meio a um sem número de pessoas. Buscam resolver sozinhas seus próprios conflitos e tentam satisfazer a si próprios.
O problema é que sozinho o indivíduo se torna mais vulnerável, fragilizado e na busca por satisfação pessoal ele encontrará mais angústia.
Numa era tecnológica como a que estamos vivendo, de rápida e fácil comunicação com o mundo, as pessoas ainda vivem o drama de se sentirem solitárias.
Competição: Nossa sociedade assumidamente capitalista e consumista tem gerado um conceito utilitarista das pessoas, fazendo-as crer que só terão valor se possuírem bens e estiverem participando da produção de outros bens.
O valor passa a ser no que se tem e não no que se é como pessoa.
Em função disso, as pessoas se tornam altamente competitivas, desconfiadas em seus relacionamentos, vendo o outro como franco adversário.
Logicamente, tal postura levou o ser humano a um isolamento planejado e destruidor, gerando um estilo egoísta de viver somado à atitudes nada humanas do ponto de vista da bondade e da generosidade para com o outro.
Descartabilidade: Numa sociedade consumista as pessoas se tornam descartáveis à medida que não conseguem produzir bens como antes. Tornam-se inaptas para o grande mercado.
A idéia da descartabilidade gera um sentimento de desvalor e inutilidade existencial, o qual desemboca em angústias, depressões e outras enfermidades da alma.
Nesse ponto, a maior necessidade do indivíduo é sentir-se capacitado e qualificado para viver com propósitos, desenvolvendo relacionamentos significativos.
Padrões errados de comportamento: Não é raro encontrarmos no aconselhamento pastoral pessoas honestas que lutam contra padrões inadequados de comportamento que adquiriram na infância por modelos ruins, os quais desembocam em alguns desvios, como práticas sexuais distorcidas, no hábito de mentir, dificuldade de desenvolver relacionamentos profundos e saudáveis, dificuldade em amar e ser amado, vícios, reações extremamente negativas, temperamento de difícil convivência, caráter falho, etc.
São as enfermidades que muitos tentam esconder ou racionalizar como se fosse algo normal.
Traumas interiores: Pessoas que não foram amadas quando pequenas, sentimentos de rejeição, crítica excessiva por parte dos pais, disciplina violenta, abuso sexual, lares desajustados, são algumas das situações que fazem as pessoas se sentirem presas a um passado triste e opressor, que as paralisa, bloqueando todo seu potencial de crescimento.
Tais pessoas gastam grande parte do seu tempo e energia tentando administrar seus traumas interiores, ficando assim sem energia para buscar o crescimento pessoal.
Medos/Temores/Ansiedade: Vivemos no século da ansiedade e de todos os tipos de medo.
Nunca se consumiu tantos tranqüilizantes como antes, mesmo entre a população mais jovem.
É grande o número de pessoas que precisam lidar diariamente com seus medos e inseguranças, desde os mais simples e insignificantes até aqueles mais assustadores. O medo da morte, do desemprego, da doença, da perda da família, de ficar sem dinheiro, de ser assaltado, de ser rejeitado, são alguns exemplos de medos que tomam conta da nossa sociedade hoje.
Desintegração familiar: Já é sabido que a família não desempenha mais um papel central em nossa sociedade e nem é vista com a mesma importância de antes.
Isso não diminui, no entanto, o caráter integrador da família na vida de qualquer pessoa, sendo a instituição que ensina limites, forma o caráter, gera o senso de pertencer, dá identidade e equilíbrio emocional ao indivíduo. Mas o que se vê, porém, são pessoas vivendo sob o mesmo teto, sem compartilhar suas vidas e seus sentimentos mais profundos.
Poderíamos destacar ainda outras características da nossa sociedade pós-moderna e suas conseqüências para os nossos dias. No entanto, nosso objetivo é mostrar que as características acima apresentadas são nada mais que expressões do pecado na vida humana, os quais por sua vez levam a uma desintegração do ser.
Para aprofundarmos esta questão tentaremos no próximo ponto definir alguns conceitos importantes do ponto de vista bíblico e teológico, a fim de enriquecer nossa reflexão.