A Teologia da Libertação


A Teologia da Libertação se diversifica nos movimentos sociais, com características de gênero, geração, cultura, raça e muitas outras identidades. A opção pelos pobres nos leva a olharmos a realidade na perspectiva da liberdade e libertação dos pobres e de todas as vítimas da história. O termo libertação foi aberto a partir da realidade cultural, social, econômica e política sob a qual se encontrava a América Latina, a partir das décadas de 60/70 do último século.
 Os teólogos deste período, católicos e protestantes, assumiram a libertação como paradigma de todo fazer teológico. A teologia da libertação torna-se força geradora de ações que viabilizam uma práxis libertadora, segundo as necessidades advindas das diversas circunstâncias sob as quais um povo está submetido.
O quadro de degradação apresentado na América Latina é o fundamento gerador do conceito de libertação. A libertação, então, é toda ação que visa criar espaço para a liberdade. Ser livre, neste sentido, é não estar sob o jugo da lei alheia; é poder construir-se autonomamente.
 Devido à pobreza e à nefasta degradação do povo da América Latina, a libertação deve ser entendida como superação de um processo de exclusão; desta forma compete à teologia da libertação a tarefa de discursar sobre Deus a partir da ótica de um processo excludente e a partir da realidade concreta dos excluídos. O teólogo da libertação, portanto, deve ter este duplo olhar: olhar para Deus e olhar para o excluído. Olhar para Deus é a fonte de toda libertação possível e o olhar para o excluído identifica onde há necessidade de libertação. Olhando para Deus – ou Cristo - a teologia da libertação diferencia-se de todo movimento libertador laico, já que a libertação apresentada pela teologia enxerga nos processos históricos a possibilidade de presentificação da nova ordem escatológica anunciada por Cristo, o Reino de Deus – ordem de justiça e da superação de toda opressão possível, na sociedade e no cosmos. Ao pretender olhar para o excluído e para o sistema gerador de opressão, como pressuposto de todo fazer teológico, a teologia da libertação difere-se radicalmente das teologias clássicas, pois supera o anacronismo destas, circunscrevendo a experiência de Deus no âmbito do engajamento do fiel na luta contra todo o sofrimento humano historicamente situado.
Para que haja elaboração da teologia da libertação é mister que se compreenda os fenômenos da opressão e da exclusão. Estes devem ser compreendidos através de uma mediação sócios – analítica, Libertação é libertação do oprimido. Por isso, a teologia da libertação deve começar por se debruçar sobre as condições reais em que se encontra o oprimido de qualquer ordem que ele seja. O método utilizado para elucidar sócio– analiticamente o fenômeno da opressão e da exclusão pela teologia da libertação, é o método histórico- dialético.
            Após a leitura sócio–analítica, o teólogo da libertação deve-se deparar com a Bíblia Sagrada. A Bíblia deve fornecer subsídios para que se possa identificar a face de Deus e sua ação libertadora, nos diversos momentos históricos, sob as quais vive o teólogo e seu povo.  Há, então, no processo de elaboração da teologia da libertação, uma imbricação necessária entre a análise sócio–analítica da realidade e a Bíblia Sagrada. Esta última fornece o sentido teológico da práxis libertadora proposta pela teologia da libertação.
            Com a gênese da teologia da libertação na América Latina, a religião passa a ser um fator de mobilização e não do freio. A religião não mais se apresenta como ópio do povo.  Ela passa a ser fonte de libertação e de esperança para o homem. A religião, desta forma, não se reduz a uma ideologia que mantém o status social e político; também não é mais fonte de discursos etéreos.
O neoliberalismo agravou o endividamento externo e interno e multiplicou a dura experiência da miséria e da exclusão social. Além disso, aprofundou o grau de dependência dos nossos povos na forma de um neocolonialismo que se expressa especialmente em relações de livre comércio profundamente desiguais e geradoras de exploração em todos os níveis.
A teologia da libertação pretende mostrar que Deus não está em uma esfera trans–histórica; mas, ela quer mostrar que Deus encarna-se na história, gera libertação de um povo humilhado, gera vida e esperança a um povo crucificado e sem sonhos. Podemos dizer, metaforicamente, que a teologia da libertação anuncia a descida de Deus de sua esfera transcendente e celeste e mostra-o como agente dignificador dos humilhados da terra. Deus não é mais um conjunto de doutrinas e especulações, mas é a fonte de toda a luta pela justiça e igualdade. Por isso, Deus se manifesta nas lutas históricas pela justiça, pela inclusão e pela superação de toda opressão vigente na humanidade. Eis a face de Deus anunciada pela teologia da libertação, Deus que tira o povo da opressão, da servidão.
            O céu almejado pela humanidade, não é pensado como realidade pós-morte. Este céu que fora pensado pela teologia clássica como realidade distante que se manifestaria no porvir, encarna-se no agora, através da práxis do povo em prol da dignidade humana, cada conquista popular, no que tange a uma relação mais justa entre os homens, presentifica o céu no seio da humanidade.
            A teologia da libertação surge para mostrar que Deus é Pai – Nosso; portanto os homens e as mulheres devem se relacionar como irmãos e irmãs, sem haver exclusão, sem haver opressão ou sem qualquer tipo de violação da dignidade humana. Lutar pela libertação é valorizar a paternidade universal de Deus, que se manifesta nas relações justas e fraternas entre todos os seres humanos.