ALGUMAS OBERVAÇÕES ACERCA DE ALGUNS PRÉ-SOCRÁTICOS

Filósofos pré-socráticos é o nome pelo qual são conhecidos aqueles filósofos da Grécia Antiga que, como sugere o nome, antecederam a Sócrates. Essa divisão propriamente, se dá mais devido ao objeto de sua filosofia, em relação à novidade introduzida por Platão, do que à cronologia - visto que, temporalmente, alguns dos ditos pré-socráticos são contemporâneos a Sócrates, ou mesmo posteriores a ele (como no caso de alguns sofistas).
Primeiramente, os pré-socráticos, também chamados naturalistas ou filósofos da physis (natureza - entendendo-se este termo não em seu sentido corriqueiro, mas como realidade primeira, originária e fundamental, ou o que é primário,fundamental e persistente, em oposição ao que é secundário, derivado e transitório), tinham como escopo especulativo o problema cosmológico, ou cosmo-ontológico, e buscavam o princípio (ou arché) das coisas.
Posteriormente, com a questão do princípio fundamental único entrando em crise, surge a sofística, e o foco muda do cosmo para o homem e o problema moral.
Os principais filósofos pré-socráticos (e suas escolas) foram:  

1.         TALES DE MILETO (625-558 a.C.)

Tales foi comerciante de sal e de azeite de oliva, e enriqueceu como proprietário de prensas de azeitona durante uma safra promissora. Sabe-se que Tales previu um eclipse ocorrido em 585 a.C.
De suas idéias quase nada é conhecido. Aristóteles o chama de fundador da filosofia, e lembra que a sua doutrina baseia-se na água como o elemento primordial de todas as coisas (physis, fonte originária, gênese), e que para suportar as transformações e permanecer inalterada, a água deveria ser um elemento eterno.
Atribui-se a Tales a afirmação de que "todas as coisas estão cheias de deuses", o que talvez pode ser associado à idéia de que o imã tem vida, porque move o ferro. Essa afirmação representa não um retorno a concepções míticas, mas simplesmente a idéia de que o universo é dotado de animação, de que a matéria é viva (hilozoísmo). Além disso, elaborou uma teoria para explicar as inundações do Nilo, e atribui-se a Tales a solução de diversos problemas geométricos (exemplo: teorema de Pitágoras).
Tales foi um dos filósofos que acreditava que as coisas têm por trás de si um princípio físico, material, chamado arqué. Para Tales, o arqué seria a água. Tales observou que o calor necessita de água, que o morto resseca, que a natureza é úmida, que os germens são úmidos, que os alimentos contêm seiva, e concluiu que o princípio de tudo era a água. Com essa afirmação deduz-se que a existência singular não possui autonomia alguma, apenas algo acidental, uma modificação. A existência singular é passageira, modifica-se. A água é um momento no todo em geral, um elemento. Tales com essa afirmação queria descobrir um elemento físico que fosse constante em todas as coisas. Algo que fosse o princípio unificador de todos os seres.
Principais fragmentos: “... a água é o princípio de todas as coisas...”.
“... todas as coisas estão cheias de deuses...”.
“... a pedra magnética possui uma alma porque move o ferro..."

2.         ANAXIMANDRO DE MILETO (610-546 a.C.)

O princípio de tudo, o arqué, seria o ar e as coisas da natureza seriam o ar condensado em vários graus. A rarefação e condensação do ar forma o mundo. A alma é ar, o fogo é ar rarefeito; quando acontece uma condensação, o ar se transforma em água, se condensa ainda mais e se transforma em terra, e por fim em pedra. Foi o primeiro a afirmar que a Lua recebe a sua luz do Sol.
Para esse filósofo o ar representa um elemento invisível e imponderável, quase inobservável e, no entanto, observável: o ar é a própria vida, a força vital, a divindade que “anima” o mundo.
Principais fragmentos: “... do ar dizia que nascem todas as coisas existentes, as que foram e as que serão, os deuses e as coisas divinas...”

3.         XENÓFANES DE CÓLOFON (570-528 a.C.)

O elemento primordial para ele é a terra, através do elemento terra desenvolve sua cosmologia. Combate acirradamente a concepção antropomórfica dos deuses, e defende um Deus único, eterno, imóvel.
Fragmentos principais: “... tudo sai da terra e tudo volta à terra...”
“... tudo o que nasce e cresce é terra e água..."

4.         HERÁCLITO DE ÉFESO (540-476 a.C.)

Cognominado de "obscuro". Afirmava que todas as coisas estão em movimento como um fluxo perpétuo. O escoamento contínuo dos seres em mudança perpétua, e que esse se processa através de contrários. A lei fundamental do Universo é o devir, que significa contínuas transformações. Tudo flui e nada fica como é. Coisa alguma é estável. Tudo segue seu curso. Para Heráclito o princípio das coisas é o fogo. O fogo transforma-se em água, sendo que uma metade retorna ao céu como vapor e a outra metade transforma-se em terra. Sucessivamente, a terra transforma-se em água e a água, em fogo. Todas as coisas mudam sem cessar, e o que temos diante de nós em dado momento é diferente do que foi há pouco e do que será depois. Afirmou: "Nunca nos banhamos duas vezes no mesmo rio, pois na segunda vez não somos os mesmos, e também o rio mudou."
Grande representante do pensamento dialético. Concebia a realidade do mundo como algo dinâmico, em permanente transformação. Daí sua escola filosófica ser chamada de mobilista (=movimento). Para ele, a vida era um fluxo constante, impulsionado pela luta de forças contrárias. Assim, afirmava que “a luta é a mãe, rainha e princípio de todas as coisas”. É pela luta das forças opostas que o mundo se modifica e evolui.
Heráclito imaginava a realidade dinâmica do mundo sob a forma de fogo, com chamas vivas e eternas, governando o constante movimento dos seres.
Ele estabelece a existência de uma lei universal e fixa (o logos), regedora de todos os acontecimentos particulares e fundamentalmente da harmonia universal, harmonia feita de tensões.
“Tudo flui”. Nada neste nosso mundo é permanente. Tudo está mudando o tempo todo. A mudança é a lei da vida e do universo.
Ele concebe o próprio absoluto como processo, como a própria dialética. O ser é o um, o segundo é o devir. O absoluto se dá a unidade dos opostos. Para ele a essência é a mudança.
Principais fragmentos: “... Todas as coisas estão em movimento...”
“... O movimento se processa através de contrários.."
“... Tudo se faz por contraste; da luta dos contrários nasce a mais bela harmonia...”
“... descemos e não descemos nos mesmos rios; somos e não somos...”
  
5.         PITÁGORAS DE SAMOS

É dele a ideia de que o número é o princípio ordenador de todas as coisas, os quais representam a ordem e a harmonia. Assim, a essência dos seres, teria uma estrutura matemática. Para Pitágoras, aquele que compreende todas as relações numéricas chega à essência das coisas. Portanto, a substância das coisas é o número. Pitágoras interpretou a forma dualista da teoria dos opostos e a descoberta de ordem matemática, sobretudo do famoso teorema que lhe é atribuído.
Principais Fragmentos: “... o princípio das matemáticas é o princípio de todas as coisas.."

6.         PARMÊNIDES DE ELÉIA (530-460 a.C.)

É a doutrina mais profunda de todo o pensamento socrático, mas também a mais difícil interpretação. O poema divide-se: o prólogo, o caminho da verdade e o caminho da opinião. Parmênides afirma que a única coisa eterna é o ser; as mudanças são ilusórias. Não haveria, por conseguinte, mudanças nas coisas. Para conhecer o conteúdo verdadeiro e objetivo das coisas é necessário pensar. Conhecer o ser é conhecer a verdade. Parmênides combateu Heráclito que diz que tudo flui. Para Parmênides é absurdo e impensável considerar que uma coisa pode ser e não ser ao mesmo tempo. Parmênides considera que o movimento existe apenas no mundo sensível, e no mundo inteligível o ser é imóvel.
Defendia a existência de dois caminhos para a compreensão da realidade. O primeiro é o da filosofia, da razão, da essência. O segundo é o da crendice, da opinião pessoal, da aparência enganosa, que ele considerava a “via de Heráclito”.
É o primeiro filósofo a formular os princípios lógicos de identidade e de não-contradição, desenvolvidos depois por Aristóteles.
Ao refletir sobre o ser, pela via da essência, o filósofo eleático conclui que o ser é eterno, único, imóvel e ilimitado. Essa é a via da verdade pura, a via a ser buscada pela ciência e pela filosofia.
Ele afirma que o imóvel, o limitado e o esferóide é Deus.
Para ele tudo não apenas deve ser sem-princípio e não-criado como também deve ser preenchido, um plenum. Isso gera uma visão do universo como uma única entidade realmente imutável. Tudo é um.
Principais fragmentos: “... pois pensar e ser é o mesmo...”
“... o ser é, e o nada, ao contrário, nada é...”
“... resta-nos assim um único caminho: o ser é...”

7.         ANAXÁGORAS DE CLAZOMENA (500-428 a.C.)

Haveria um número infinito de elementos que Anaxágoras chamou de homeomerias, ou sementes invisíveis, que diferiam entre si nas qualidades. Todas as coisas resultariam da combinação das diferentes homeomerias.
Fragmentos Principais: “ ... Todas as coisas estavam juntas, ilimitadas em número e pequenez, pois o pequeno era ilimitado...”