A MUDANÇA DO HOMEM POR MEIO DA FILOSOFIA



O homem é um ser que interroga a vida, e deve interrogá-la continuamente. O modo de perguntar difere de homem para homem, mas o próprio enigma sempre permanece.  A resposta do homem ocorre dentro de um determinado contexto histórico (HUSSERL,1965). Para Aristóteles (384-322 a C.), “todos os homens desejam naturalmente saber. Muitos, contudo, se perdem nesta tarefa ao longo da vida, talvez por desconhecerem um caminho”.
É preciso buscar conceituar a filosofia de forma simples e existencial, compreender o que ela é, e verificar o seu significado para a vida humana.
A filosofia está associada tanto ao saber teórico quanto à sabedoria prática. De fato, o sucesso da filosofia teórica não nos oferece qualquer garantia de que seremos filósofos no sentido prático ou de que agiremos e sentiremos de modo correto sempre que nos envolvermos em determinadas situações práticas. A filosofia se manifesta como uma forma de entendimento que tanto propicia a compreensão de sua existência, em termos de significado, como oferece um direcionamento para sua ação. A filosofia é o campo de entendimento que, quando nos apropriamos dele, nos percebemos refletindo sobre a cotidianidade dos seres humanos: Desde as coisas mais simples ate as mais complexas. O ato de filosofar não é unicamente um processo individual, mas também um processo que possui uma contrapartida social.
Ao colocar-se na posição de que o homem, ser da natureza, constitui entre muitos outros cósmicos, físicos, biológicos , um agente da transformação do universo, a filosofia situou na experiência de campo e processo dessas contínuas metamorfoses.
Não agimos por agir. Agimos por certa finalidade, que pode ser mais amplas ou restritas; as finalidades mais amplas são aquelas que se referem ao sentido da existência, busca o bem da sociedade, lutar pela emancipação dos oprimidos, e assim por diante. Isso porque e certo que a vida só tem sentido  se vivido em função de valores dignos e dignificantes (HUSSERL,1965).
Todos tem uma forma de compreender o mundo, ninguém age no escuro, sem saber onde vai ou porque vai. Só se pode agir a partir de um esclarecimento do mundo e de uma realidade. Todos vivem de uma concepção do mundo, agem e se comportam de acordo com uma significação inconsciente que emprestam a vida. E neste sentido que podemos dizer que todo homem e filósofo.
Todo tem uma filosofia de vida, ou seja, nos orientamos por valores implícitos ( inconsciente ) ou explícitos ( conscientes) . De acordo com Husserl (1965) ”quando falamos em filosofia de vida queremos dizer que esse direcionamento diário inconsciente pode ocorrer da assificação, do senso comum, que adquirimos e acumulamos espontaneamente”.
Não e possível viver sem pensar, uma das características do homem e a necessidade, de não só conhecer a natureza a fim de poder transformá-la pelo trabalho, mas a necessidade de compreender-se a si mesmo.
Não há, portanto, vida humana consciente de si mesma sem reflexão filosófica, sem reflexão critica sobre o real, considerado em sua totalidade. A  filosofia vai coincidir com que se chama de processo de consciência ou conscientização, tanto no sentido do tempo como no julgamento.
Não existe um modelo de homem, é impossível existir um homem padrão, um modelo que todos deveriam seguir a risca. O que existe é uma condição humana que resulta do conjunto das relações humana, de sua vocação como homem. Este último ponto é importante, pois afasta qualquer tentativa de estabelecer a existência de uma natureza humana fixa e imutável, ou de estabelecer distinções entre os homens com base em qualquer aspecto extrínseco, como a raça, a cor, ou religião (HUSSERL,1965).
O homem, como os outros seres vivos, também se esforça para se preservar, numa das coisas que difere dos outros organismos é que produz os meios para sua existência, reorganizando e modificando os recursos naturais disponíveis. Age dirigido por finalidades conscientes, para responder aos desafios da natureza e para luar pela sobrevivência.
O homem, ao colocar-se no mundo, estabelece uma ligação entre o sujeito que quer conhecer e o objeto a ser conhecido. O sujeito se transforma mediante o novo saber e o objeto também se transforma, pois o conhecimento lhe dá sentido (COTRIN, 1993).
O homem é um agente transformador da natureza, e a natureza é o resultado dessa transformação. Ao atuar através de sua atividade produtiva sob a natureza, pelo trabalho cuidando de prover sua existência mediante a apropriação e incorporação dos recursos naturais transformados, o homem não estabelece apenas relações individuais com a natureza. Ao mesmo tempo em que estabelece relações técnicas de produção, vai instaurando relações interindividuais, relações com os outros homens. Cria a estrutura social segundo Cotrin (1993).
O homem se descobre e se afirma no mundo, não como um mero objeto integrante da realidade total, mas como sujeito no qual essa realidade se transfigura. Ao interpretar e transformar a realidade, o homem se encontra com outros seres humanos envolvidos na mesma tarefa, é o que chamamos de confronto com outros sujeitos. Na medida em que alguém fala e acolhe a palavra do outro realiza o reconhecimento mais profundo outro como sujeito. No instante em que o homem reconhece o outro e com ele dialoga em busca de um sentido para o mundo para a existência, nasce à história.

Dar um sentido ao mundo no diálogo das consciências, é existir plenamente como homem e, portanto, existir plenamente como sujeito do processo histórico (HUSSERL,1965).
Na medida de nossas forças, construímos, uma filosofia e a ela nos acomodamos, tão bem como tão mal, em nossa ânsia e inquietação de compreender e de pacificar o espírito. Quando a ciência vai refazendo o mundo e a onda de transformação alcança as peças mais delicadas da existência humana, só quem vive à margem da vida, sem interesse e sem paixões, sem amores e sem ódios, pode julgar que dispensa uma filosofia. Só com uma vida profundamente superficial podemos não sentir as solicitações diversas e antagônicas das diferentes fases do conhecimento humano, e os conflitos eperplexidades atordoantes da hora presente.
Aprender concepções e verdades que engessam o processo de ação e reflexão diante do mundo e de sua própria existência, é desta que filosofia transforma o homem.
Contudo, boa parte da filosofia volta-se mais para o modo pelo qual conhecemos as coisas do que propriamente para as coisas que conhecemos, sendo essa uma segunda razão pela qual a filosofia parece carecer de conteúdo. No entanto, discussões a respeito de um critério definitivo de verdade podem determinar, na medida em que recomendam a aplicação de um dado critério, quais as proposições que na prática deliberamos serem verdadeiras.
Não é tarefa da filosofia investigar intenções ocultas e preexistentes da realidade, mas interpretar uma realidade carente de intenções, mediante a capacidade de construção de figuras, de imagens a partir dos elementos isolados da realidade; ela levanta as questões, cuja investigação exaustiva é tarefa das ciências; uma tarefa à qual a filosofia permanece continuamente vinculada, porque sua intensa luminosidade não conseguiria inflamar-se em outro lugar a não ser contra essas duras questões.
A filosofia tem exercido, por mais que ignoremos isso, uma admirável influência indireta até mesmo sobre a vida de gente que nunca ouviu falar nela. Indiretamente, tem sido destilada através de sermões, da literatura, dos jornais e da tradição oral, afetando assim toda a perspectiva geral do mundo. Em grande parte, foi através de sua influência que se fez da religião cristã o que ela é hoje. Devemos originalmente a filósofos idéias que desempenharam papel fundamental para o pensamento em geral, mesmo em seu aspecto popular, como, por exemplo, a concepção de que nenhum homem pode ser tratado apenas como um meio ou a de que o estabelecimento de um governo depende do consentimento dos governado.
No âmbito da política, a influência das concepções filosóficas tem sido expressiva. É inegável que a influência da filosofia sobre a política pode às vezes ser nefasta: os filósofos alemães do século XX podem ser parcialmente responsabilizados pelo desenvolvimento de um nacionalismo exacerbado que posteriormente veio a assumir formas bastante deturpadas. Todavia, não resta dúvida de que essa responsabilidade tem sido freqüentemente muito exagerada, sendo difícil determiná-la exatamente, o que se deve ao fato de aqueles filósofos terem sido obscuros. Contudo, se uma filosofia de má qualidade pode exercer influência nefasta sobre a política, com as filosofias de boa qualidade pode ocorrer o contrário. Não há meios de impedir tais influências sendo portanto extremamente oportuno que dediquemos especial atenção à filosofia com o intuito de constatar se concepções que exerceram
alguma influência foram mais positivas do que nefastas. Uma boa filosofia, ao influenciar favoravelmente a política, pode gerar uma prosperidade incapaz de ser alcançada sob a égide de uma filosofia inferior